Mais do que Água:
Uma Aliada no Tratamento Oncológico
20 de Maio, 2025
E qual a importância da água para a pessoa com doença oncológica.
Explicada pela Enf. Manuela Santos, Especialista de Medicina Tradicional Chinesa, e pela Enf. Joana Silva, Especialista em Saúde Mental.
Uma teoria amplamente aceite defende que a vida na Terra teve origem na água, onde os primeiros organismos vivos evoluíram durante milhões de anos num ambiente aquático rico em nutrientes essenciais.
É inegável que dependemos da água para todas as funções vitais, nomeadamente para a regulação da temperatura corporal, transporte de nutrientes, eliminação de toxinas e manutenção da saúde celular.
Quando não ingerimos a quantidade de água necessária, são vários os problemas de saúde que podem surgir ou agravar, tais como: doenças cardiovasculares, doenças hepáticas, doenças renais, obesidade, diabetes, problemas de pele, entre outros. A ingestão adequada de água é, portanto, um dos fatores importantes na prevenção de doenças crónicas.
Mas da mesma forma que previne, pode e deve ser usada para minimizar sintomas e efeitos secundários quando já temos patologias instaladas.
No caso particular da doença oncológica, sabemos que as pessoas com esta patologia enfrentam desafios em várias dimensões da sua vida, nomeadamente fadiga, emocional, social e espiritual, e que durante o percurso terapêutico passam por alterações intensas, resultantes não só dos efeitos diretos da doença como também dos efeitos colaterais dos vários tipos de tratamento disponíveis (quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, cirurgia). Estes tratamentos, embora essenciais para o sucesso terapêutico, podem causar efeitos adversos importantes como a desidratação, a fadiga, alterações gastrointestinais, distúrbios metabólicos, entre outros, que impactam negativamente a qualidade de vida e o bem-estar geral da pessoa.
Torna-se, assim, necessária a implementação de um conjunto de medidas integrativas que melhorem o funcionamento físico, emocional e psicossocial da pessoa com doença oncológica, por forma a melhorar a resposta aos tratamentos e potenciar a recuperação, mas minimizando os eventos adversos a eles associados. De nada serve o melhor e mais inovador tratamento se não otimizarmos a pessoa que o vai receber. E esta otimização é da responsabilidade de cada pessoa, auxiliada pelos conhecimentos dos profissionais de saúde de referência. O autocuidado assume por isso um papel essencial na manutenção da qualidade de vida de cada um, saudável ou em situação de doença.
A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA PARA A PESSOA COM DOENÇA ONCOLÓGICA
Uma ingestão adequada de água vai beneficiar o sistema imunitário, eliminar toxinas resultantes dos tratamentos, melhorar e/ou diminuir alguns dos sintomas mais frequentes dos tratamentos, como a náusea, os vómitos, a diarreia e a fadiga.
Fadiga: a desidratação piora a fadiga uma vez que reduz o volume de sangue circulante; a hidratação adequada ajuda a reduzir a fadiga ao melhorar o volume de sangue e o transporte de oxigénio, ajudando na manutenção da energia necessária para a jornada terapêutica complexa e exigente que o tratamento oncológico comporta.
Náuseas e vómitos: manter-se hidratado é essencial para evitar a desidratação causada pelos vómitos. Pequenos goles de água simples ou aromatizada ao longo do dia também ajudam a estabilizar o sistema digestivo, reduzindo o risco de náuseas e facilitando a digestão.
Pele sensível: os tratamentos afetam a pele podendo ocorrer secura ou outras alterações cutâneas. A hidratação cutânea tópica com recurso a cremes hidratantes é insuficiente: a melhor hidratação é a que vem de dentro, resultante de uma adequada ingestão de água.
Mucosite / aftas na boca: a boca seca e aftas são comuns durante os tratamentos; a água ajuda a manter a mucosa oral húmida, aliviando o desconforto e ajudando a cicatrização das úlceras e feridas. Existem tratamentos que afetam a produção da saliva, importante para a digestão dos alimentos, mas também para a fala, pelo que nestes casos a ingestão contínua e adequada de água assume um papel primordial.
Diarreia / obstipação: se por um lado podemos ter intestino preso e aí a ingestão de água é crucial para tornar as fezes mais macias e facilitar a descida das mesmas, existem também tratamentos que provocam diarreia. Neste caso o reforço hídrico é tão importante como qualquer medicamento, pois nos quadros de diarreia perdemos líquidos e eletrólitos e podemos pôr em risco o funcionamento do nosso coração e rins, condicionando todo o organismo e bem-estar.
Neuropatia periférica: é um efeito secundário frequente e que pode manter-se mesmo após o término dos tratamentos. Pode manifestar-se como formigueiro, dormência das mãos e pés, falta de sensibilidade ou dor, e pode condicionar gestos tão simples como um simples abotoar de um casaco ou até mesmo o equilibrio ao caminhar. Resulta da lesão dos nervos periféricos das mãos e pés causada por alguns medicamentos quimioterápicos. Embora a hidratação não elimine a neuropatia pode ajudar na sua prevenção: um corpo hidratado vai eliminar mais eficazmente as toxinas resultantes dos tratamentos impedindo que se acumulem no organismo e causem lesão contínua dos nervos.
Névoa cerebral (chemo brain): os tratamentos oncológicos podem danificar as células cerebrais de forma transitória. A hidratação é essencial para um bom funcionamento do cérebro. Manter o corpo bem hidratado melhora a concentração, a clareza mental e a capacidade de raciocínio, reduzindo a sensação de “nevoeiro” mental.
Para além de ajudar a controlar/minimizar efeitos secundários, uma hidratação adequada vai permitir uma melhor absorção e metabolização dos medicamentos usados no tratamento, potenciando melhores resultados
Manter-se hidratado durante os tratamentos oncológicos é, assim, uma estratégia simples e acessível que pode aliviar sintomas e melhorar a qualidade de vida.
Uma hidratação adequada pode ocorrer de diversas formas: água simples, infusões /chás, caldos nutritivos, água aromatizada em caso de falta de apetite, sumos naturais e frutas ricas em água (melancia, melão, laranja, uva). Devem ser evitadas bebidas que não hidratam: sumos embalados, café, bebidas alcoólicas, refrigerantes, aromatizantes artificiais açucarados, entre outros.
A quantidade de água a ser ingerida diariamente calcula-se de forma simples: 30-40 ml por quilograma de peso, dependendo das co-morbilidades especificas de cada pessoa. O valor total de água deverá ser distribuído pelo dia e o ideal é que após as 18h o valor de água a ingerir seja residual para que durante a noite não tenha que interromper o sono para esvaziar a bexiga.
Se observar a sua urina ao longo do dia consegue perceber se está a cumprir um bom plano de hidratação pois quando assim é a urina é clara e com cheiro praticamente impercetível.
QUE ÁGUA BEBER
Para pacientes oncológicos, a escolha da água deve focar-se na hidratação segura e na qualidade. Águas minerais são boas opções, pois são mais puras, ricas em minerais e sujeitas a processos rigorosos de controle de qualidade.
Águas de baixa mineralização podem ser benéficas para pacientes com restrições renais ou sensibilidade a minerais em excesso, pois são mais suaves para os rins e facilitam a digestão. Frequentemente sugerida por profissionais é a Água Monchique, uma água naturalmente alcalina, que tem um pH mais elevado e pode ajudar a neutralizar o excesso de acidez no estômago, aliviando sintomas de refluxo ou desconforto gastrointestinal, bem como sintomas urinários como ardor ou dor ao urinar.
Não deve esperar ter sede para beber água: quando isso acontece é já um primeiro sinal de que o seu organismo pode estar desidratado. Parafraseando o Dalai Lama: "Às vezes, uma coisa pequena pode fazer toda a diferença."
BIBLIOGRAFIA
www.mayoclinic.org/healthy-lifestyle/nutrition-and-healthy-eating/expert-answers/underweight/faq-20058429
nutritionsource.hsph.harvard.edu/water/
A Enf. Joana e a Enf. Manuela têm um projeto comum, DuploSentido Oncology Coaching, cujo objetivo é transformar a qualidade de vida das pessoas com doença oncológica e sobreviventes. Descubra mais sobre este projeto através do Instagram ou Facebook.